terça-feira, 12 de abril de 2011

A Tua Graça Nos Basta

Acredito que a melhor forma de oferecermos um culto racional a Deus é entregarmos nosso entendimento à contemplação de sua Palavra, reconhecendo sua graça totalitária através de Seu amor. Pergunto-me, por vezes, que amor é esse que venceu até a morte e que não importando nada que eu fizesse, mesmo assim me amou de modo tão extremo e gratuito?

As Escrituras, assim como eu, consideram o homem um ser de natureza decaída, que apesar de feito à imagem e semelhança do Deus que é perfeito em todas as coisas (“Criou Deus, pois o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou” Gen 1:27), escolheu seguir seus próprios impulsos e paixões. Embora, em sua essência perfeito, a desobediência original marcou o restante da descendência humana com o signo do pecado. A primeira questão que poderia nos ocorrer, é: se o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, porque decaiu em si mesmo, já que seria perfeito inicialmente?

A resposta que encontramos é que havia uma característica fundamental no homem: a liberdade de seu espírito ou o livre-arbítrio, sua capacidade racional de tomar decisões. Havia ali também no Éden o adversário de Deus, Satanás, que outrora anjo de luz, decaiu em seu próprio orgulho e soberba e agora intentava contra todo plano de Deus. Satanás em forma de serpente começou a lançar dúvidas para Eva, a companheira de Adão: “Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o Senhor Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?” Gen 3:1 ao que Eva retrucou dizendo que só não poderiam comer da árvore do meio do jardim, como na ordem expressa a Adão, antes mesmo de sua companheira ser criada: “E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres certamente morrerás. Disse ainda o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que seja idônea” Gen 2:16-18. Naquele instante a serpente passou a confundir Eva, ponde em cheque a bondade e o amor de Deus para com os dois. Justificando que passariam a conhecer o bem e o mal, a serpente lançou sobre o coração de Eva a curiosidade, o desejo pelo fruto e à cobiça pelo conhecimento: “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu” Gen 3: 6

Pausa para uma digressão. O apóstolo Paulo em sua primeira carta a Timóteo a cerca deste episódio escreveu: E Adão não foi iludido, mas a mulher sendo enganada, caiu em transgressão. I Tim 2:14. Vimos anteriormente que a ordem de não comer da árvore plantada no meio do jardim foi dada expressamente ao homem, enquanto a mulher foi criada depois. Sendo assim, a responsabilidade direta era de guardar aquela ordem era de Adão, enquanto Eva obedecia por tabela. Enquanto Adão desobedeceu consciente das consequências que viriam, Eva foi iludida. Apesar disso, eram indesculpáveis já que além de comerem o fruto proibido, descumpriram uma ordem dada diretamente a eles, preferindo obedecer ao seu desejo carnal de comê-lo acima da vontade de estar em comunhão com Deus, cedendo à mentira de Satanás.

Mas será que Deus já não sabia de todos os acontecimentos que iriam se suceder? Claro que sim! A bendita árvore do conhecimento do bem e do mal com a interdição de se comer de seu fruto se tornaria uma fonte iminente de curiosidade e de tentação para os humanos, mas ainda ali sua natureza não fora corrompida e Deus como pai amoroso e complacente, esperava que seus filhos o obedecessem por amor, se não por isso, pelo menos por medo de morrer. A morte a que Deus se referia era a separação da criatura com o criador.

A Palavra de Deus nos afirma que entregue a si mesmo, o homem era incapaz de dominar-se: “Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo o desígnio do seu coração” Gen 6:5. Deus chegou a destruir a humanidade, para que pudesse ser renascida da família de Noé, mas o problema está na própria natureza humana: o pecado. No capítulo primeiro de Romanos a partir do versículo 16, Paulo descreve claramente como a humanidade preferiu negar o conhecimento verdadeiro do Deus vivo para se dedicar à adoração das criaturas no lugar do Criador, se entregando a suas “paixões infames” e “por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes” Rom 1:28. Ora o conhecimento de Deus e de seus atributos são reconhecíveis na sua própria criação, sendo por isso todos os homens inescusáveis.

Deus por sua infinita misericórdia arquitetou um plano de salvação, já que os homens por si mesmo são incapazes de se salvar e de obedecer às suas leis, tendo estas o papel só de lhe informar a sua vocação para transgredi-las, revelou seu favor imerecido dando-nos seu filho: Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” Jo 3:16. Nisto se manifesta o amor de Deus, sendo nós culpados de nossas transgressões, vendo que não haveria modo de pagá-las, nem pelo preço de nossa vida, Deus enviou seu filho, Santo Cordeiro, para morrer por cada de um nós. E embora a disposição para o pecado ainda esteja dentro de cada um de nós, aqueles que creem na obra suficiente e redentora de Cristo, são capazes de pedir perdão e se arrepender de seus pecados, sendo assim “o arrependimento não é o que fazemos para obter o perdão; é o que fazemos porque fomos perdoados” Brennan Manning.

Desta maneira, conscientes que não temos qualquer merecimento, que nada que possamos fazer poderá nos redimir e que nada do que fizemos diminuiu o amor de Deus por nós, entendamos o significado das palavras: “misericórdia quero e não holocaustos” (Mt 9:13), sabendo que nossas obras, nossos ministérios, nossos rostos compungidos, nossas tentativas de “santidade”, são todos em vão, porque se pomos nossos estribos em nossos próprios esforços estamos condenados ao fracasso. A nossa natureza continua apontado para os maus desígnios, mas a graça é de graça. O que o Senhor quer de nós é disposição em estar próximo dEle, nos aperfeiçoando numa relação íntima com nosso Pai, porque mesmo sendo como somos, Ele nos ama infinitamente.